quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Os cultos e refinados Filisteus

Os cultos e refinados Filisteus

A Bíblia os descreveu como um povo belicosoe bárbaro, mas os arqueólogos têm uma opinião bem diferente acerca desses antigos habitantes de Canaã

por Elisabeth Yehuda

Para o senso comum, a palavra “filisteu” designa um indivíduo inculto e carente de inteligência, com interesses vulgares e puramente materiais. Um sujeito convencional, desprovido de toda e qualquer capacidade intelectual. Porém, para os arqueólogos, o termo evoca algo muito diferente.

Ecron, Gath, Gaza, Ashcalon e Ashdod são nomes que os estudiosos da Bíblia e da história de Israel sabem de cor. Representam as localidades que constituíram, a certa época, a aliança política e econômica entre cinco cidades-estado autônomas na costa sul do Levante, conhecida como a pentápole filistina. A região era habitada por povos oriundos do Egeu, os filisteus, que se estabeleceram definitivamente no local durante a Idade do Bronze tardia.

De Josué a Jeremias, o Antigo Testamento sistematicamente os descreve como inimigos mortais dos hebreus. São apresentados como guerreiros incansáveis, que combatem e humilham cruelmente os israelitas, oferecendo ao deus Dagan todos os bens alheios saqueados. Em uma das inúmeras guerras travadas entre os dois povos, os cadáveres degolados do rei Saul e de seus filhos ficaram friamente expostos diante das muralhas da cidade de Beth Shean. Porém, a vingança dos israelitas, ou melhor, de seu deus Jeová, não foi menos atroz: segundo a narrativa bíblica, o povo inimigo sofreu moléstias, ulcerações e chagas. Davi, por ocasião de seu casamento com Michal, filha de Saul, presenteou sua noiva com o prepúcio de 200 filisteus mortos. Nos tempos em que ainda pastoreava as ovelhas de seu pai, Jessé, ele já havia sido protagonista de um célebre embate, em que demonstrou ao amedrontado exército israelita que bastava uma funda para dobrar a força filistina, encarnada no gigante Golias. Outro personagem conhecido da querela, Sansão, escolhido de Deus, viveu a amarga experiência de que nem sempre é vantajoso desposar uma mulher da tribo inimiga.

Não fossem os autores do Livro Sagrado judaico, os filisteus permaneceriam tão desconhecidos como inúmeros outros povos da época. Mas os escribas bíblicos consideraram-nos dignos de nota e desde então, graças ao caráter das descrições a eles dedicadas, os povos do mar gozam da inglória fama de incultos e bárbaros. No entanto, os achados arqueológicos trazem à luz a avançada cultura filistina e comprovam que a tribo sabia perfeitamente se portar como povo civilizado.

Em finais do século XII a.C., o faraó Ramsés III ergueu o templo mortuário em Medinet Habu. Ali, o governante quis perpetuar seu nome e feitos heróicos e, para tanto, decorou as paredes externas do mausoléu com preciosos relevos, representando as cenas de suas inúmeras glórias. Os frisos são acompanhados de textos explicativos, que descrevem minuciosamente cada uma das batalhas vencidas. Entre eles, a história das pelejas contra os povos do mar.

Por volta de 1190 a.C., no oitavo ano de reinado de Ramsés III, o Egito foi atacado por uma coalizão de povos marítimos. O faraó massacrou os invasores e contabilizou uma retumbante vitória. Entre os derrotados, havia tribos de nomes tão sonoros como Thekker, Shekelesh, Denyen, Wesheh e Peleset. Os estudiosos concordam que estes últimos são idênticos aos filisteus da Bíblia.

O quadro é complementado pelo Papiro Harris, uma crônica da época de Ramsés IV – aproximadamente 1153 a.C. –, que detalha ainda mais os conflitos bélicos ocorridos durante o reinado de seu predecessor. Os documentos relatam o massacre empreendido por Ramsés III. Vencidos e aprisionados, os filisteus foram levados à força para guarnições no Egito.

Mas a dúvida permanece: até que ponto os construtores de Medinet Habu e os escribas do papiro foram fiéis à realidade? Afinal, a narração de batalhas indecisas ou de vitórias dos rebeldes não seria benéfica à gloriosa memória do faraó. A ciência concorda que a questão é controversa. Há décadas, os estudiosos discutem o teor de verdade dos textos. Parte dos pesquisadores argumenta que não há exageros nos relatos, e que o faraó egípcio teria, de fato, trucidado os filisteus e colonizado as guarnições com os sobreviventes. As imagens e a narrativa que chegaram à atualidade demonstram que os povos do mar não avançaram rumo ao Egito somente com seus exércitos, mas com carruagens cheias de mulheres e crianças. Porém, se populações inteiras se mobilizaram em direção a terras estrangeiras, tendo sido interceptadas pelos egípcios e obrigadas a se estabelecer nos domínios do faraó, algum vestígio concreto dessa colonização deveria permanecer. E o Egito não guarda remanescentes da cultura filistina, que aparece mais nítida em outros locais.

Um segundo grupo de estudiosos considera a tese de assentamento compulsório dos povos do mar bastante plausível, mas argumenta que a descrição do local de colonização é muito vaga. Esses pesquisadores ponderam que os filisteus podem ter sido levados a algum lugar ao norte do reino egípcio. E como este era bastante vasto, não é impossível que a Terra de Canaã, sob domínio do Egito nos tempos de Ramsés III, tenha sido o local do desterramento. Os sepultamentos ao estilo egípcio lá encontrados, possivelmente herdados pelos recém-chegados de seus dominadores, e os objetos escavados na região juntamente com peças de cerâmica moldadas à moda filistina depõem a favor dessa teoria.

Uma terceira linha de pesquisa coloca em dúvida as conquistas e relatos de glória de Ramsés III. Segundo seus defensores, os egípcios não saíram de modo nenhum vitoriosos das batalhas contra os filisteus e estes teriam colonizado a região de Canaã por conta própria. As marcas de destruição nos postos egípcios avançados, como em Tel el-Farah, nos quais foi encontrada cerâmica tipicamente filistina, parecem comprovar essa hipótese.

A origem dos povos do mar é mais um assunto de disputa entre os estudiosos, que concordam apenas sobre o espaço do Egeu como local de procedência. Alguns pesquisadores consideram a região micênica como berço dos filisteus. Outros, mais cuidadosos, defendem uma opinião conservadora: a pátria dos povos do mar seria Chipre. E há ainda os audazes, que consideram que a colonização de Canaã se deu a partir da Anatólia. Estes chegam a lançar mão da Ilíada de Homero como repositório de informações sobre a origem filistina. Afinal, se o famoso arqueólogo alemão Heinrich Schliemann conseguira encontrar Tróia guiado pelos versos do grande poeta grego, então não parece impossível que Menelau ou Odisseu, que depois de intermináveis périplos haviam atracado nas costas da Líbia e do Egito, tenham sido os ancestrais dos filisteus.

O registro arqueológico só reconstitui a origem filistina até Chipre, a última estação inquestionavelmente pertencente aos povos do mar em sua peregrinação rumo ao sul. Depois disso, qualquer tentativa de relacionar os diversos achados fracassa em função da semelhança dos supostos vestígios com os remanescentes de outras culturas oriundas do Egeu.

No Levante, os recém-chegados filisteus realizaram mais do que simplesmente amedrontar os nativos. Traziam na bagagem sua própria cultura e esforçaram-se por estabelecê-la no novo lar. Mas eis que surge nova matéria de controvérsia entre os estudiosos. Uns acreditam que o desenvolvimento que se seguiu representa mera assimilação, com a crescente dissolução dos costumes filistinos. Outros consideram tratar-se de uma aculturação, isto é, uma troca ativa entre duas ou mais culturas, resultando na modelagem de cada uma delas.

De todo modo, o que parece certo é que, embora os filisteus tenham vindo como conquistadores, logo trataram de se arranjar com os hábitos de Canaã. Adotaram os elementos que consideraram bons e práticos e mantiveram aquilo que lhes era caro. Assim, seus deuses são todos de origem cananéia, bem como os parâmetros de guerra que passaram a usar, como se pode verificar pela armadura ostentada por Golias no relato bíblico. A cerâmica, no entanto, foi considerada demasiadamente simples, e os filisteus continuaram a moldar suas peças de acordo com suas antigas técnicas e tradições. As escavações na pentápole filistina trouxeram à tona uma enorme quantidade de peças em estilo micênico. Porém, um século depois do assentamento inicial, parece haver ocorrido o reconhecimento do valor da cerâmica cananéia e a incorporação de novos elementos estilísticos, levando a uma produção que unia os estilos micênico, cipriota, cananeu e egípcio.

Possivelmente, a ojeriza bíblica aos filisteus se relaciona menos com sua propalada violência bélica e mais com os seus hábitos. Seu cardápio incluía – além de boi, carneiro, aves e cabra – carne de porco, ingrediente culinário impensável para os hebreus e não encontrado nas montanhas vizinhas, habitadas pelos israelitas.

Se considerarmos que os filisteus não veneravam um único deus patriarcal mas uma grande quantidade de deuses e deusas, a indignação sacerdotal hebraica se torna ainda mais compreensível. A segunda mais importante divindade filistéia respondia ao sonoro nome de Baal-Zebub e os israelitas consideravam esse deus a personificação do paganismo. Hoje, belzebu é um nome corriqueiro para o diabo.

Embora sua engenhosidade não tenha sido reconhecida pelos moradores da montanha, os invasores destacaram-se na arte da construção naval, introduzindo grandes inovações tais como a âncora de pedra com braços de madeira, a vela móvel para as embarcações e o cesto da gávea.

A arquitetura também pôde se beneficiar: até então, a construção fazia uso apenas de pedras brutas e tijolos. Os povos do mar trouxeram a técnica de esculpir grandes blocos rochosos. Além disso, desenvolveram e aperfeiçoaram o processamento de metais.

Em XI a.C., as cidades filistéias floresceram e destacavam-se pelos espaços amplos e pelas generosas construções. Os templos, erguidos em veneração a Dagan, impressionavam pela vastidão de suas galerias, cujas pilastras sustentavam tetos semi-abertos. Em seu interior, ardiam fogos sagrados, e altares móveis, nichos e plataformas de oração guarneciam os locais de culto. Em Ashcalon, vinhos exóticos eram produzidos e exportados. Numerosas garrafas foram desenterradas no local, comprovando que os habitantes dessa cidade gostavam de consumir a bebida, além da tradicional cerveja. Ecron, por sua vez, alcançou fama nacional e talvez até internacional pela produção de outro líquido precioso: o óleo de oliva, que se destacou na época pela excepcional qualidade.

No século X a.C., quando da unificação das tribos israelitas sob o rei Davi, os filisteus foram colocados diante de uma grande dificuldade, com a força multiplicada dos hebreus ameaçando-os. Além destes, os arameus, babilônios e assírios foram de igual importância para sua decadência. Os arameus, por exemplo, não mediram esforços para conquistar a cobiçada Gath e, no século IX a.C., chegaram a sitiá-la, escavando um poço com mais de seis metros de profundidade e sete de largura. Após ser tomada, a cidade nunca mais se recuperou da destruição, desaparecendo dos registros por volta do século VII a.C. A última menção a ela ocorre em 712 a.C., quando foi conquistada pelos assírios e obrigada a pagar pesados tributos ao rei Sargão II, que no mesmo período dobrou Ecron ao seu jugo. Ashdod já havia se tornado província assíria um ano antes. Em 701 a.C. , o soberano de Ecron, o filisteu Padi, foi levado a Jerusalém por Hezekiah, rei judaico que se rebelara contra os assírios.

A derrocada ocorreu ao final do século VII a.C. A batalha de Karkemish, travada em 605 a.C., derrubou o domínio assírio sobre as províncias da costa mediterrânea e abriu caminho ao rei babilônio Nabucodonosor. Com sua chegada, Ecron, Ashdod e Ashcalon, sofreram a derradeira destruição. As escavações testemunham o cenário de horror que se estabeleceu. Ashcalon, com suas ruas de comércio, templos e palácios, foi inteiramente incendiada. Nada nem ninguém foi poupado, e os sítios arqueológicos atestam a existência somente de escombros de guerra. Em Ecron, o fogo dos conquistadores ardeu com tamanha intensidade que arrebentou as pedras calcárias das construções. Nenhuma peça de cerâmica permaneceu inteira, comprovando a violência do assalto que se abateu como uma catástrofe natural sobre a cidade. Depois da completa destruição, os poucos moradores sobreviventes foram aprisionados e deportados para a Babilônia.
A cultura filistina chegava, assim, ao seu ponto final. E, ao contrário dos israelitas, que haviam sofrido destino semelhante mas aos quais, depois de 70 anos de prisão, foi aberta a possibilidade de retornar a sua pátria, os filisteus que não haviam sucumbido ao massacre nunca mais voltaram à Palestina natal. Deles resta somente o relato antipático da Bíblia e o papel de personificação do mal e da estupidez.

Elisabeth Yehuda É arqueóloga do Instituto Israelita de Arqueologia.

História Viva
http://www2.uol.com.br/historiaviva/

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

As ocupações tribais em Canaã e as invasões egéias da Costa Mediterrânea no Séc. X a.C. Marcos Davi Duarte da Cunha

As ocupações tribais em Canaã e as invasões egéias da Costa Mediterrânea no Séc. X a.C.
Marcos Davi Duarte da Cunha.

Contemplamos aqui os quatro principais grupos étnicos que possuíam ou habitavam as terras de Canaã no tempo proposto.
Canaã por volta dos séculos XII a IX a.C. foi palco de intensas migrações de povos que passaram a habitar ou dominar esta região depois conhecida como Palestina (Terra dos Filisteus). Tais ocupações ocorreram principalmente durante o declínio de duas das grandes forças imperiais do Mundo Antigo de então: Hititas e o Egito. Durante anos Canaã esteve sob jugo tributário do faraó. Mas, com a grande crise interna que se deflagrou nos âmbitos políticos e também no religioso o Egito terá uma considerável diminuição da presença de seu império em suas possessões além do Sinai, possibilitando o sucesso das invasões indo-européias na Costa o que veremos a frente no estudo. Para os hebreus, no entanto, Canaã é vista como a terra da promessa de seu deus, idéia proveniente dos grupos vindos do Egito com o profeta Moisés. Ao chegarem à região irão se juntar aos hebreus autóctones que habitavam as terras mais ao Norte e próximos às regiões montanhosas. Com o tempo suas estruturas de assentamento possibilitarão ocupar outras áreas de posse dos cananeus espalhando-se assim pela região baseados em conceitos de tribos. Suas conquistas iniciais serão lideradas por Josué, líder sucessor de Moisés. Suas Histórias encontram-se nos Livros do Pentateuco (Torah), Principalmente no Livro de Josué e são permeadas de grandes combates e vitórias fantásticas sobre muitas cidades como Jericó em que as muralhas vão ao chão após dias de entoação de trombetas pelos guerreiros hebreus. Cumpre notar de uma boa advertência aos incautos leitores de que as narrativas deste período estão redigidas com exageros comuns aos escribas da época no intuito de enaltecer as façanhas e atribuir aos heróis grandes e às vezes sobre-humanos feitos e a Bíblia não se excetua nisso. Suas lutas contra os já instalados grupos cananeus que se vêem contra outras frentes de invasões dos Povos do Mar, serão de maneira aguerrida ocupando ou aumentando o grupo autóctone local com sua chegada em várias localidades da região.
De início, não procuram enfrentamento com os indo-europeus, certamente devido à diferença de forças e que neste momento ainda não haverá a ameaça de expansão destes para o interior em busca das terras férteis.
A promessa hebraica
Ao que diz a Bíblia Hebraica Canaã era a Terra Prometida por Yahweh para Abraão, patriarca bíblico do povo de Israel que agora se encontrava no cativeiro egípcio. Pela tradição da Bíblia Hebraica as Doze Tribos saíram após as manifestações fantásticas de enfrentamento de Yahweh para com um Faraó resistente ante os apelos de Moisés que reivindicava a liberdade (ou melhor, direito de retorno à sua terra natal tendo em vista que as posses de Canaã eram tributárias do Egito) para todos os descendentes do Patriarca. Comumente, temos a visão lúdica da divisão das terras cananéias pelos hebreus vagantes, algo permeado de aventura e destemor face às narrativas interpretadas. Mas, há o risco de se limitar a uma história que intenta justificar uma divisão estanque e conotativa em favor dessas tribos, principalmente as que tinham maior poder entre as Doze. Esse vício histórico é explicado tendo em vista que a narrativa sobre a ocupação das terras mais utilizada é a da Bíblia Hebraica principalmente como se sucedeu a partilha das terras entres as Doze. Obviamente, isto também está ligado ao fato que esta versão está mais a mão que outras. Mas, com um olhar atento e crítico pode-se perceber que ali está uma construção do que chamaremos de “Israel Pleno”, ou seja, o imaginário do que se aspirava de uma dominação e que certamente floresce na mentalidade hebraica com o decorrer dos anos. Se confrontarmos então com outras vertentes históricas não só poderemos entender pontos diferentes como também acrescentar maior conhecimento das culturas da época. A visão do Israel Pleno é principalmente fomentada pelas tribos mais ricas, as mesmas que posteriormente irão clamar um rei por finalidade a defender suas posses. Na verdade, ao se inserirem nas regiões, esses grupos se misturam com os cananeus principalmente. As tribos abastadas terão proeminência principalmente com adoção da pecuária. A cultura de bois requer muitas terras de boa qualidade para pasto e mão-de-obra. Ter bois era sinal de poder à época, uma propriedade cara (Saul para convocar tropas das tribos para uma batalha mata um boi e o reparte em doze pedaços, exemplo de reclame em defesa desta propriedade). O boi foi domesticado pelo homem por volta de 2000 a.C. aproximadamente. Sua domesticação atingiu tal forma que contribuiria até para os sistemas monetários primitivos, a própria origem de termos como “pecuniária” e codinomes similares, origina-se de “pecus” do latim que significa rebanho de gado. Tal atribuição no Mundo Antigo certamente denotava também a posição de status do indivíduo em seu meio social. Mesmo que pareça na ótica bíblica da divisão das tribos algo perfeito e igualitário, enfim, se houve essa intensão, ela não existiu na prática entre os hebreus mostrando tribos mais fortes que as outras e também mostrando que o reclame pela pessoa monárquica pelos mesmos estava ligado a necessidade de se defender justamente suas posses e riquezas, pois, no sistema de magistrados não havia exército regular havendo a difícil tarefa de se arregimentar tropas de outras tribos, às vezes, insatisfeitas entre si e desunidas (muitas vezes sequer enviavam).


Os Povos do Mar
Conhecidos biblicamente como “filisteus” estes povos (seis aproximadamente) são oriundos de Micenas, Egéia e outras localidades próximas da Anatólia (Turquia). Infringiram seu poderio contra os exércitos das duas grandes potências submetendo a primeira e conquistando algumas regiões da segunda após violentas batalhas. Embora a Bíblia Hebraica nos relate estes como “bárbaros incivilizados e pagãos”, pesquisas recentes demonstram que eram muito avançados e cultos, com técnicas aprimoradas de arte em cerâmica e outras habilidades tais como as práticas de fundição do bronze e do ferro adquirida esta segunda com os hititas e amplamente utilizada na confecção de armas que se demonstraram superiores, tendo em vista que os povos da região ainda se encontravam na Era do Bronze e as espadas fundidas em ferro eram mais resistentes e longas, diferentes das demais adversárias. Em virtude das estratégias militares também se apresentavam mais eficazes apesar de não possuírem ou mesmo fazer pouco uso de carros de guerra como os dos hititas e egípcios. Uma estratégia de combate que certamente foi aplicada era a de “formações de falanges”, tropas a pé em fileiras bem escamoteadas e perfiladas em posições que exigem disciplina e coordenação do grupo. Esta formação podia se mover e mudar seu contorno de acordo com a manobra inimiga. Se fosse um ataque de tropas a pé a formação se fechava numa muralha de escudos e fustigando os adversários com suas lanças. Se caso o ataque viesse na forma de carros de combate a falange se posicionava em forma de escaramuças em deltas (ou diamante) permitindo assim que as montarias adentrassem por entre os pelotões sendo atacados pelos lados em combate aproximado, algo mortal para os carros que eram eficientes numa batalha campal em formação de carga. Aos raros que conseguissem atravessar as impetuosas lanças nos vazios daquele ardil eram alvejados pelas setas em sua retaguarda ou atacados por batedores de flanco armados com suas espadas de aço longas contra as egípcias em curva e de bronze, algo jamais visto nos conflitos até o momento. Essa nova estratégia de combate certamente assombrou as grandes potências de então que creditavam suas vitórias principalmente pelas cargas de suas cavalarias atreladas. Um outro detalhe seria o terror psicológico promovido pela diferença de estatura entre combatentes. Ao passo que um guerreiro egeu tivesse em média 1,80 e as vezes atingindo 2,00 metros, o soldado egípcio comum podia atingir a estatura de 1,60. Num embate isso contava muito (a narrativa de Golias, descrito como um gigante ante um pequeno Davi num duelo de campeões dos reis filisteus e israelitas). O faraó repeliu a invasão por mar, pois certamente possuía equivalência bélico-naval ao quase, porém, por terra o desgaste foi considerável. Assim, os egípcios tiveram muitas complicações para rechaçar tais grupos, principalmente na região do Delta do Nilo até o lado Sul do Sinai. Pelo que parece as tropas egípcias, combalidas de vorazes confrontos em seu próprio território, perderam a força não avançando em campanha além do Sinai.
As primeiras aparições dos Povos do Mar nos domínios do Faraó serão registradas pelo séc. XIV a.C. nas cartas de Amarna. Muitos ali, sob a égide de Ramsés II como os “Sherden” e “Lukkah” aparecem como mercenários e piratas a serviço do Faraó. Estes serviram na batalha de Kadesh contra os hititas. Já alguns grupos estabelecidos pelas regiões do vasto império agora sob o comando de Menephtah, cinco denominações aparecem de etnias, porém, desta sorte, aliadas dos líbios, inimigos da fronteira Oeste.


Tablete com o relato de Ramsés III repelindo violentamente os Povos do Mar.

Tais grupos étnicos, dessa vez, aparecem denominados como “estrangeiros do mar”. Será, portanto, na regência de Ramsés III que teremos maiores fontes escritas sobre como se sucedeu os contatos entre os egípcios e estes grupos. Com a derrocada rápida hitita, inimigo de longa data do faraó e respeitado militarmente por seus manejos em campo de batalha como em Kadesh, na qual Muwatalis (1306-1282 a.C.) e seus exércitos destroçam as brigadas egípcias quase levando o faraó Ramsés II (1301-1234 a.C.) à morte, os autos desta empresa ecoaram longe. Os grupos vindos do Oeste por terra rompendo linhas de defesa, fortificações e invadindo cidades como Wilusa (Tróia) e Watussis, a capital hitita, conseguem algo que certamente para os egípcios era assustador com a contínua marcha em direção agora das terras costeiras cananéias destruindo entrepostos fenícios, seus concorrentes de comércio e marinha egípcia, tal como as cidades de povos cananeus que se vêem empurrados para as regiões montanhosas ante a famigerada vaga de indo-europeus.
São estes relatos que particularmente iremos precisar como outra versão para contemplar um estudo sobre a ocupação de Canaã no período próximo descrito na Bíblia Hebraica de “Conquista da Terra Prometida” pelos hebreus. Nas paredes do templo mortuário de Ramsés III situado em Medinet Abu estão registradas as campanhas militares contra esses povos, principalmente os que ocuparam a Costa Palestina. Tal é a riqueza de baixos-relevos e pinturas sobre que podemos considerar a difícil campanha de expulsão ao ponto de remetê-la a muitos registros.
Os filisteus certamente têm a mais enigmática história quiçá a com menor informação sobre os motivos diretos de sua empresa nos escritos históricos. Grande parte dos estudos sobre estes povos se dá pelo olhar de outrem, ou seja, vemos através dos matizes dos seus adversários o que é muito limitado e certamente passível de erros e tendências históricas, como vimos em relação às narrativas da Bíblia Hebraica e do templo de Medinet Abu. Ora, inimigos comumente não relatam virtudes e nem se o cotidiano social ou religioso tem algum valor. Igualmente, são de costume demonizados ou postos de forma pejorativa o que dificulta uma aproximação de cunho histórico e contemplativo imparcial. Como estes povos pouco ou nada deixaram de documentação escrita como decretos, registros reais, por exemplo, o que coletamos em sítios arqueológicos ainda se limita aos artefatos de cerâmica, armas e construções, mas, sobre sua vida cotidiana, o que pensavam como prestavam cultos ainda é uma grande incógnita. Uma colcha de retalhos com diversos buracos a serem preenchidos. Sabemos que mesmo sendo altamente belicosos também não se eximiam das práticas de comércio com os outros grupos ali existentes. A Bíblia relata da manutenção siderúrgica das ferramentas de campo dos hebreus pelos ferreiros filisteus e de seus onerosos serviços de manutenção de fios e forjas. Vemos também com isso o monopólio das fundições obrigando a outros buscarem seus serviços. É possível que as lâminas de arado confeccionadas em ferro fossem bem mais caras e só as tribos mais ricas se utilizavam desta peça. Encontrou-se também um grande número de bilhas de cerveja de estilo mesopotâmico demonstrando sua capacidade de absorver práticas de outras culturas e que os filisteus degustavam bastante desta bebida, Sansão em sua história às vezes festejava entre os mesmos nestes banquetes e será numa dessas festas que encontrará seu fatídico fim. Também adotavam à sua culinária a carne de porco, abominada pelos hebreus. Isso pode ter sido um dos fatores que puseram os filisteus na classe de “incivilizados” pelos hebreus. Até o termo Philishtim e Kaphtorim também são sinônimos de “gentalha da pior espécie” em hebraico. Outra coisa que contribuirá com essa amarga visão era seus cultos politeístas e principalmente os de divindades como Baal e Ishtar contra o ainda frágil e recém-chegado monoteísmo de Yahweh.
Uma aporia que emerge também seria sobre seu fim nas narrativas. Não há ainda relatos plausíveis de sua desaparição das terras palestinas. Certamente, os remanescentes deste grupo se misturam aos outros povos ali como mercenários e afins diversos. Mas, um dos motivos do enfraquecimento pode estar do outro lado do Mediterrâneo. É que com as lutas entre grupos na Grécia, é provável que isso viesse a enfraquecer as outras cidades e colônias fora deste território, isso se levarmos em conta a relação metrópole-colônia o que ainda é muito incerto de se afirmar apesar de intenso comércio marítimo. Se houve absorção destes por parte dos hebreus, certamente, esta foi muito conturbada devido as diferenças de cultura que eram muito gritantes apesar de vermos posteriormente na Bíblia Hebraica resquícios desta cultura no decorrer de seus livros tal como pessoas, principalmente militares.

Invasão dos Povos do Mar

Muito embora sua marca fosse de belicosidade, sua égide de ocupação tem não só o viés militar.

Povos do Mar - Nota-se a presença de carros de boi com mulheres e crianças e à frente uma formação de falange.

Em relatos de seus assentamentos podemos notar a presença de carros de bois com crianças e mulheres dentro do ardor das batalhas o que poderia denotar de uma interceptação das forças egípcias de algum grupo em marcha com suas famílias. Porém, apesar de toda imponência da conquista aos hititas e o terror promovido pelos relatos, sua temível formação de combate, outros fatores contribuíram para esta vitória. Os ataques constantes dos assírios pelo Oriente enfraqueceram muito as linhas hititas não suportando assim uma outra frente de invasão pelo lado Oeste do império. O segundo fator facilitador da ocupação de Canaã era que o Egito, senhor destas terras, passava também por uma profunda crise político-religiosa o que punha em risco a unidade imperial algo visceral para um conflito pesado o que limita as campanhas objetivando mais ao Delta repelindo assim, preferencialmente, a invasão por mar para evitar a perda de seus portos essenciais no Mediterrâneo (daí a alcunha “Povos do Mar”). Assim, com o enfraquecimento, o faraó não tem outra saída a não ser a vassalagem e, ou, a contratação de mercenários dos novos assentados em Canaã a fim de que não perdesse o poder de influência na região e mantivesse suas guarnições principalmente no Sinal. Porém este poder estava vertiginosamente em declínio chegando à abstração do imaginário de escribas ou faraônica, típicas de se reverter algo negativo para uma interpretação pendente em favor do mesmo. A exemplo desta perda de influência, temos as cartas de um oficial egípcio encarregado de uma compra de madeiras para o faraó. Wuenamon (séc. XI a.C. aprox.) é perseguido pelos navios de Sikel, rei de Dor que o confiscara todo o dinheiro quando o oficial adentrou suas terras de passagem para a ilha Alashia (Creta) e Biblos na Costa Palestina que também não o queria ali como informa seus diários.
Os Cananeus
Certamente o mais prejudicado de todos estes grupos se vê com dois principais problemas em suas terras. O primeiro é o aumento de população entre grupos hebreus tendo em vista da saída dos que estavam no Egito (relato bíblico). O aumento é visível às lideranças cananéias e se torna ameaçador com o decorrer dos anos. Outro problema é que o novo grupo que assenta em diversas partes da região respira uma égide de um Israel totalmente hebreu em que outros grupos são os “invasores” que na visão do Israel Pleno pregado pelos profetas e sacerdotes do culto javeísta proveniente da linha mosaica de crença, todos estes “pagãos” devem ser exterminados. Na prática isso não existia, pois das Doze Tribos imaginárias que alicerçam a visão estão espalhadas e mescladas ente os grupos cananeus que possuem uma constituição de reino mais aprimorada em detrimento às magistraturas tribais das Doze que habitam suas terras. Essa visão de posse da terra pelos israelitas certamente incomodou em muito os líderes cananeus. Com um aumento destes grupos, em pouco tempo, algumas tribos se tornarão mais abastadas que outras. Enfim, numa visão cananéia, a perda de presença e influência do faraó nas terras de Canaã face aos enfrentamentos contra as vagas de indo-europeus é visceral para a defesa de suas terras com o agravamento dos assentamentos tribais de hebreus serão os mais prejudicados dentre os povos ali em matéria de terras aráveis.
Seus cultos porém, se mantém com certa presença ainda por muitos séculos. Eram politeístas com adorações ao deus Baal e a deusa Ishtar em cultos voltados a fertilidade e boa colheita. Suas práticas eram muito apreciadas pelos filisteus e até mesmo por hebreus que representavam Ishtar como esposa de Yahweh em alguns casos. Algumas práticas, no entanto, eram obscuras e às vezes violentas chegando aos sacrifícios humanos como no caso dos ritos para Moloq em que a cerimônia consistia em pôr uma criança nas mãos de uma imagem feita em bronze oca que era aquecida a ponto de queimar a carne de oferecido que aos gritos ensandecidos e abafados pelos tambores chamava a divindade para recebê-lo. É provável que muitos israelitas se aproximassem deste rito talvez até pela aparência com o pedido de Yahweh para Abraão do sacrifício de Isaque. Praticavam também a necromancia muito difundida principalmente nas cidades cananéias ao Norte de Canaã e alguns casos até entre hebreus mesmo essa forma de culto estava presente.
As conquistas de Canaã tal como as lutas para manter a posse da terra pelos grupos presentes ainda possuem diversas lacunas, porém é ali naquele momento histórico que estão as chaves para o entendimento de uma construção monárquica entre os hebreus que chegará a pessoa de Saul e depois de Davi como também seus sucessores. Será ali o último relato sobre os filisteus que sumirão dos escritos deixando uma grande incógnita de como foram absorvidos por outros grupos ou simplesmente desapareceram. O porquê de seu declínio e enfraquecimento de suas cidades-estados.

Bibliografia:

Figuras:

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Description de l’Egipte, ou Recueil des observations et des recherches, vol.2, pl.8, fig.07, Thébes, Medynet-Abou. Paris 1809.

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• Bíblia Sacra Vulgata – Stuttgart - Deutsche Bibelgesellschaft - 1969.
• Bíblia Septuaginta – Stuttgart- Deutsche Bibelgesellschaft - 1935.
• Bíblia Thompson – São Paulo - Ed. Vida - 1995.
• BIRKET-SMITH, Kaj. História da Cultura – São Paulo - Ed. Melhoramentos - 1955.
• BRIGTH, John – História de Israel – São Paulo - Ed. Paulus - 2003.
• CERAM, C. W.Götter, gräber und gelehrte– 1955- Verlag.
• DE VAUX, Roland. As instituições de Israel no Antigo Testamento – São Paulo – Ed. Teológica – 2002.
• FINKELSTEIN, Israel e Neil A. S. – The Bible Unearthed: Archeology’s. New vision of Ancient Israel and the Origin of Its Sacred Texts – New York - Simon & Schuster, Inc. – 2001.
• FARIA, Jacir de Freitas (org.), AUTH, Romi, Et. al. História de Israel e as pesquisas mais recentes – Petrópolis - Ed. Vozes – 2004.
• KIRST, Nelson, Et al. Dicionário Hebraico-Português – Petrópolis - Ed. Sinodal – Vozes - 1997.
• HARRIS, R. Laird, Et al. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento – São Paulo - Ed. Vida Nova - 1999.
• HOOKER, J. T.Et al. Lendo o Passado – São Paulo - Ed. Melhoramentos / Ed. USP - 1996.
• GOTTWALD, Norman K. Introdução socioliterária à Bíblia Hebraica – São Paulo - Ed.Paulus - 1988.
• JOHNSON, Paul. História dos Judeus – Rio de Janeiro - Ed. IMAGO-1995.
• JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus – Rio de Janeiro - Ed. CPAD - 1999.
• KAUFMANN, Yehezkel. Religiões de Israel - São Paulo - Ed. Perspectiva - 2000.
• KELLER, Werner.E a Bíblia tinha razão– São Paulo - Ed.Melhoramentos- 1959..
• MAUSS, Marcel e Henri Hubert- Essai sur nature et la fonction du sacrifice (1899)- Paris – Éd.de Minuit - 1970.
• MAZAR, Amihai. Arqueologia na Terra da Bíblia – São Paulo – Ed. Paulinas – 2003.
• SCHÖKEL, Luis Alonso. Dicionário Hebraico-Português – São Paulo - Ed. Paulus - 1997.
• SETERS, John van. Em busca da História – Historiografia no Mundo Antigo e as origens da História Bíblica – São Paulo – Ed. USP – 2008.
• UNGER, Merril. Arqueologia do Velho Testamento – EBR-1998.
• WENDT, Hebert .Es begann in Babel-die entdeckung der Volker– Rastt- 1958.




Ut Habere Sapientia Pro Omnes

quarta-feira, 25 de março de 2009

Inserção pelo escriba no texto de Juízes, cap. 18 verso 30.

Os levitas eram oriundos da tribo de Levi da qual também era Moisés. Tinham atribuições de zelo para com o tabernáculo e observância do culto em Siló. Mas, pelo que vemos alguns tinham se corrompido em pequenas situações até enfim a de idolatria. No texto original de Juízes, cap. 18, verso 30 o escriba se utiliza de uma inserção perceptível ao inserir na estrutura do nome de Moisés (השמ) a letra “N” transformando a palavra em “Manassés” (הש”נ”מ); uma outra tribo, que curiosamente, sua etimologia vem do termoesquecer”. Mas, como não poderia modificar o texto totalmente, vemos que a linhagem de descendência vinha de Moisés. (Livro do Êxodo, cap. 02 verso 22). Seria inadmissível para os religiosos que estas práticas tenham vindo de alguém da mesma linhagem de Moisés. O texto é apresentado de forma alarmante para com que acontecia entre as tribos; vê-se a crescente perda de força dos magistrados que nesta situação não aparecem com eficácia, como também da moral questionada dos levitas, em face de tal atitude deste indivíduo.

Em breve

Estamos trabalhando na análise do texto da Circuncisão de Gerson, filho de Moisés e em breve postaremos sobre tão enigmático texto.

Shalom!

A cultura da Púrpura (nota de Saul e a Pitonisa de En-Dor do autor Marcos Davi Duarte da Cunha)

A púrpura era extraída de um molusco denominado múrice (Murex-Muricis, família dos muricídios) que tinha por habitat a região costeira oriental do Mediterrâneo. Consistia em um pigmento obtido através da secreção de uma glândula localizada nas imediações do estômago do molusco. Outras versões do processo de obtenção da púrpura nos falam de exposição do casco deste molusco à luz solar alterando sua coloração ficando com a tonalidade tão desejada pelos tintureiros. Após a devida quara, seu casco vai para a moenda e o pó adquirido seria utilizado para a tintura. A região costeira de Canaã era rica de tal molusco. Escavações nos sítios de Tiro e Sidon revelam enormes espécies de sambaquis dos restos destes, deduzindo de uma produção de grande porte sistemático de extração da púrpura. Segundo Speiser o significado etimológico de Canaã seria “Terra de púrpura” no hebraico k’na’an-ןענכ, como também o nome Fenícia seria proveniente do grego phoiniks-φοϊνιξ que significa púrpura. A Fenícia era um forte centro de produção têxtil do mundo antigo e possuía naquele momento a hegemonia deste mercado como de outros de cunho marítimo. Albright e Maisler ratificam tal hipótese interpretando o termo como “mercador de púrpura”. No entanto, uma outra visão observada por Millard em concordância a Landsberger, afirma uma impossibilidade da etimologia do termo estar ligada com a púrpura. Porém, tal observação não apresenta uma consistência que a torne defensável.

O Domínio do aço pelos Filisteus (nota de Saul e a Pitonisa de En-Dor, autor Marcos Davi Duarte da Cunha).

O domínio da técnica de têmpera do aço que consiste numa seqüência de calor e resfriamento direto proporcionaria a confecção de espadas mais resistentes, longas e com melhor flexibilidade ao passo que praticamente toda a Palestina ainda se achava na primeira fase da Idade do Bronze. Vemos isso no relato impressionante do armamento do exército israelita sob o comando de Saul na batalha de Gilboa em que o texto nos informa de que eram equipados “apenas com duas espadas” (Primeiro Livro de Samuel, capítulo 13; verso 22). Certamente tal relato se referia às novas concepções de armamento adquiridas pela nova tecnologia monopolizada pelos reinos filisteus, tendo em vista que os israelitas possuíam armas de bronze que, por conseqüência deste material ser muito maleável, suas espadas eram bem menores, menos resistentes e necessitavam de manutenção à lâmina mais dos que as de aço temperado, usadas pelos exércitos filisteus.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Rio de Janeiro, 27 de Janeiro de 2009.

Saudações!

Ao observar o que se tem mostrado na mídia internacional sobre o conflito ocorrido entre Israel e Hamas, penso:

Que, mesmo após o advento das instituições e idéias de um Iluminismo os auspícios da Independência Americana ou Revoluções na Europa, esta por sinal dentre uma miríade de motivos também se alicerçou numa revolta ao Cristianismo, seja Católico ou Protestante e mesmo assim adota alguns erros. Ainda vejo resquícios do anti-semitismo cristão nos corredores dos palácios das nações européias. casos como de Dreyfuss numa França "Filha da Revolução" ainda ecoam em silêncio pelos contornos da Mulher de seios nus imponente e pujante, empunhando o pálio das três máximas que derribaram as portas daquela nefanda Bastilha. França esquecida de homens como os Marechais Soult e Massena, judeus (considerados por Napoleão seus melhores estrategistas). Europa da ordem aos oficiais de cartório de se porem nomes em alemão aos judeus em detrimento de seus em hebraico ou íidiche(que para os melhores sobrenomes era alto preço, destarte, os que não podiam, ganhavam pejorativos) em 1787 na Áustria de José II ainda vociferam em sussurros perigosos. O que dizer portanto de cossacos que amarravam judias, arrancavam-lhe o feto e em seus ventres costuravam um "gato vivo", se isto pode parecer surreal ou fantasioso ao Mundo é andar pelas fímbrias históricas da intolerância humana por algumas décadas; hás de contemplar uma Alemanha tísica pela opressão da cupidez dos poderes e rendida à humilhação, deitar sua fronte ao peso de perversa guante do Nazismo. Este por sua vez, oxalá fosse um "produto final" de todo um pensamento de aversão ao diferente, maciçamente anunciado às luzes da ribalta das grandes catedrais sob a égide de uma cruz. Mensagem distorcida, pelo que sim, pois havemos de convir que Jesus era Judeu, cumpriu seus ritos como um judeu, e em hipótese alguma pregou a discriminação do diferente. Pregou diálogo e não desentendimento. Pois bem, a mesma Europa que tentou massacrar um povo sob ordálios insensatos e que se horroriza ao ver a que ponto chegou seus anseios e aspirações, por que sejamos cônscios que o Nazismo era admirado no Mundo e sua pregação ouvida de pronto antes da Guerra, cumpre notar. Lembrar de um navio abarrotado de famílias judias foragidas da Polônia semanas antes da invasão alemã ser barrado no Porto de Nova Yorque e ao voltar para o seu país todos foram conduzidos para a morte como reses ao abatedouro. De cerca de mil e trezentas almas daquele navio, talvez uma mera dezena para menos tenha sobrevivido. Os EUA eram anti-semitas, mesmo apesar de uma presença judaica em seus âmagos diversos. Havard não aceitava judeus até 1935 aproximadamente. Não eram negros os perseguidos pela Klu-Kux-Klan. Chaplin é vaiado na estréia de "O Grande Ditador", paródia ao regime hitlerista. Boa parte dos soldados das Waffen-SS (exército paralelo do partido nazista) eram americanos que atenderam o "chamado de Nuremberg", assim como em outras nações. Os pára-quedistas aliados na Normandia fizeram muitos prisioneiros assim. Devemos ver também que haviam até mesmo judeus nas fileiras nazistas, cridos na filosofia ariana. Penso que o Nazismo na verdade mais que tudo, aflorou no homem o sentimento de poder segregar mesmo seus pares (os judeus de Nova Yorque não se mobilizaram para atracar aquele navio de "judeus pobres poloneses"). A Guerra acaba e conseqüentemente, a Europa também. Numa espécie de "Mea Culpa" as nações decidem oferecer o nascimento do Estado de Israel o que na verdade era uma forma de resolver a situação das vagas de despatriados judeus oriundos dos campos de concentração. A Palestina era protetorado britânico e sob sua administração que nada fez de avanço é lugar devasso, esquecido. Aquele povo que perdera tudo adentra aquela terra e constrói uma Nação. Mas, a sombra ainda paira, agora entre os palestinos. A força do Hamas remetida à intolerância não é égide de seus povo, mas, nunca se mostra isso na mídia, nãoaudiência. O incentivo desta horda de insensatos está na omissão daqueles que pregam a liberdade numa Europa também. Como explicar que será tirado o Holocausto dos livros escolares? Isso demonstra que ainda não se aprendeu e, temido disso, talvez entenderíamos se não fossem mais de seis milhões mortos em câmaras de gás e inúmeras atrocidades e sem contar a totalidade da ceifa da morte em anos de trevas, em torno de trinta e cinco milhões de vidas. Pouco? Parece que sim pois, não está merecendo nem nota de rodapé na História para nossos filhos. Por motivo algum foram mortos; por nenhum motivo assim o serão lembrados, eis a nova descrição daquele horror. Creio, que a grande mensagem das religiões é a aceitação do diferente. É nele que vemos nossos erros, por isso de início podemos repudiar. A falta de conhecimento ao ser remete-o a intolerância do inóspito por que gera o doído mas, fascinante "conhecer a si mesmo". O oposto o desafia na busca, questiona suas razões, lança-o a catarse de seu Universo. Faz evoluir. Infelizmente a Humanidade se contenta com as palmas de bajuladores, com o simples gesto da concordância do que fazemos, do que pensamos. Agora falo da ONU. Como pode uma instituição elencada nos conceitos de Estados Reconhecidos e repudiadora das atitudes insanas de terroristas se mostrar a favor do lado violento? Financia escolas do Hamas sem sequer fiscalizar o que ensinam. Ensina-se destruir Israel. Dizem que é desleal a força aplicada por Israel contra o outro exército, mas, jamais condenam este segundo quando ele quebra o "princípio de distinção de alvos" uma das leis mais antigas das guerras da Humanidade, embora sempre vilipendiada. Atacam alvos civis judeus sem nenhum pudor o que também pelo código de Genebra é crime hediondo de guerra. Enquanto que os caças e helicópteros de Israel lançam panfletos avisando de ataques e invasão de suas tropas aos palestinos (o que é um absurdo em conceitos estratégicos pois se expõe as tropas, ocasionando baixas). Milhões de mensagens foram enviadas aos celulares de palestinos pelo governo de Israel avisando da evacuação, ficou quem quis ser cúmplice, "pronto para morrer pelos seus mártires", assim disse um. Daí, o secretário da ONU condena o ataque com munição de fósforo branco (proibida por regras internacionais) que Israel utilizou. Sim está errado, sejamos justos. Mas, agora a ONU tem autoridade para repudiar por que alega que Israel é estado reconhecido??? Outra coisa, onde estão os outros povos árabes que ao invés de repudiarem os ataques do Hamas e abrirem sua mesa para a "Força do diálogo" ao invés de proclamarem em seus conselhos o "Diálogo da força" para com Israel ( a última reunião dos povos árabes teve essa tônica, anunciada com tom interessante pelos jornais da BBC). Ao que parece, confabulando, arrisco aqui, os árabes aliciam o Mundo Ocidental promovendo uma inquisição que era legado do Mundo Cristão Europeu, algo que como um cão busca o graveto para seu dono para agradá-lo. É claro, pois existe um jogo de interesses financeiros . E os "mártires de Alah" são apenas a ponta da espada, nada mais que fanáticos, mas, crer é algo útil para os que se usufruem deste conceito. Alguém ouviu de Osama Bin-Laden que ele seria mártir? Você morre por ele mas, não espere a reciprocidade. O risco do fundamentalismo está . Ele interessa aos líderes que manipulam a mente dos adidos da crença imposta aos seus corações. Enquanto não houver um esforço do entendimento das Nações e a aceitação do próximo, seja este diferente ou não de nós viveremos essa loucura de desvalores em nossa Humanidade.

Marcos Davi Duarte da Cunha

Ut Habere Sapientia Pro Omnes